Petição para a aquisição do Palácio D. Chica aprovada na Assembleia de Freguesia de Palmeira
A petição endereçada à Assembleia de Freguesia de Palmeira com o intuito de aquisição do Palácio D. Chica pela Câmara Municipal de Braga, foi aprovada na última Assembleia de Freguesia de Palmeira. A reunião, realizada no dia 30 de Setembro de 2015, contou com o voto a favor do deputado da Cidadania em Movimento Por Palmeira e a abstenção dos 8 restantes deputados do Partido Socialista e da Coligação Juntos Por Braga.
Aqui fica o teor do documento colocado em votação:
Aqui fica o teor do documento colocado em votação:
Assunto: S. O. S. PELO
PalÁCIO D. Chica, João Ferreira do Rêgo
OU CASTELO DE PALMEIRA
Petição
O Palácio de D. Chica marca indelevelmente a freguesia bracarense
de Palmeira. A sua história pode apresentar-se deste modo.
Um senhor abastado local, contando com
a sua fortuna e com a que passou a jorrar-lhe do exterior (Brasil), encomenda um projeto de uma habitação
apalaçada a um arquiteto afamado, em meados da segunda década do século
passado: Ernesto Korrodi. O
arquiteto, que tanto tinha idealizado uma habitação nobre de província” para
uma determinada burguesia triunfante nacional (projetos de 1897 e 1900),
inspirado em fontes diversas desde a arte medieval à romântica, teve na encomenda
de João José Ferreira do Rêgo a oportunidade de redesenhar e construir uma tão
desejada quão soberba obra. Ela
ergueu-se sobre um terreno que teve de ser reorganizado através de um
acordo com o município, e tomou forma, colmatando-se nos exteriores com
florestação exótica, jardins e grutas artificiais, entre os anos de 1915 e
1918/19.
Desavenças entre o jovem casal, de consanguinidade
em terceiro e quarto graus, ele com a bafejada
herança de família, ela nascida no Estado de S. Paulo (Brasil), recém-órfã
de pai (finais de 1912), com a herança paterna naquela cidade, ditaram a interrupção das obras sem que o palacete
fosse terminado ainda em parte no exterior e nos seus não menos idealizados
e nobres interiores . Cimeiro a um dos telhados frontal, o catavento perpetua
garbosamente o ano de 1917, o
frontão da lareira do hall o gótico anno domini
1919 e a
padieira da entrada da cerca da Quinta da Mata em Semelhe, local onde João
Ferreira do Rêgo passará a viver e a investir, o ano de 1919.
As vicitudes por que passou esta afamada edificação e sua distinta
senhora são conhecidas de familiares, amigos, estudiosos e também dentro do
“imperdoável luxo em face do horroroso quadro de analfabetismo que o país
oferece” (afirmação de E. Korrodi, apesar de em circunstâncias outras). O
palácio tem passado por diferentes donos privados, mas também foi da Junta de Freguesia
local entre os anos de 1987 e 1998. Com uma infeliz deliberação da Assembleia
de Freguesia no final do último mandato do ex-autarca Manuel Vieira e uma
postura idêntica de uma parte maioritária dos autarcas que se lhe seguiram
(eleitos a partir das autárquicas de dezembro de 1997), com a ainda recorrente e
incompreensível falta de apoio municipal, o palacete deixou de se manter na
posse da JF, voltando à posse de um novo proprietário privado, que atualmente o
tem à venda.
Após anos de esperas e de
contrariedades dispensáveis, o edifício e sua (em tempos frondosa) mata foram
finalmente classificados em 2013 como
MIP - Monumento de Interesse Público, e, como tal, delimitado com ZEP – zona especial de proteção (Portaria
nº 120/2013, de 8 de março).
Apesar dos anos, a solidez e a beleza do edificado saltam
à vista desarmada a qualquer leigo, mas confirmado, por exemplo, na visita efetuada por uma arquiteta do
Instituto Português do Património Cultural - Ministério da Cultura, a
partir do exterior à propriedade (por razões de inacessibilidade), no ano de
1984: “constatei o interesse neste exemplar, neo-gótico e de ecletismo
típico do séc. XIX, sendo de crer que os materiais em que foi construído
(“brasileiros”) deverão ser de excelente qualidade. Por outro lado, a
localização justifica plenamente (e o Plano de Urbanização assim o indica) a
sua utilização como equipamento público e zona verde a preservar. Para lá do
interesse do imóvel a zona verde tem grande valor e deveria ser conservada como
parque.”
O reconhecimento da importância deste
edificado constituiu uma ação persistente dos executivos da Junta de Freguesia
palmeirense liderados por Manuel Vieira (1977-1998) e o candidato de “Juntos
por Braga” (nov.2001), Dr Carlos Alberto Pereira, tê-lo-ia para sede da
Fundação Bracara Augusta se liderasse o município, por exemplo.
Cerca
de meados dos anos 90,
e na posse da Junta de Freguesia, mas cedida temporariamente em hipoteca e com
renda a uma empresa de investimentos turísticos (Ipaltur), o imóvel foi objeto de conservação e recuperação
no seu exterior e de obras para serviços no seu interior, apesar de
discordâncias conhecidas. Com a falência desta empresa concessionada e da
referida mudança nas cadeiras do poder autáquico local, a propriedade ficou na
posse da Caixa Geral de Depósitos e posteriormente na de um privado que a
adquiriu.
Por
todas as razões civilizacionais que não serão entendíveis, o palácio, apesar de fechado, foi vandalizado no seu interior,
esventrado em seus equipamentos e proteções, seus vidros amontoando-se
granulosamente pelos corredores, seus telhados desavergonhadamente estopetados,
numa tempestade que a corrida à sucata poderia explicar mas que facilmente
poderá ser desmentida pelos indicadores remanescentes testemunhais. Seu equipamento em mobiliário e loiças,
tido, dito e jurado como roubado por estranhos (!), tem sido visto por aí às escâncaras, publicamente, qual caso de
polícia à espera de ser investigado e de novo levado ao veredito da justiça.
Na
posse do atual proprietário, os motivos de preocupação com a sobrevivência
deste ex-libris têm aumentado
exponencialmente, por o ter deixado degradar a um grau
inadmissível, que parece apostado em fazer tábua rasa da lei que lhe garante
guarida (Lei de Bases do Património Cultural, nº 107/2001, de 8 de setembro),
ou mesmo a afrontá-la.
Com
o atual executivo municipal bracarense acalentamos a esperança de uma política
abrangente para a preservação do património arquitetónico e paisagístico no
concelho, que não
pode ficar-se apenas pelas Sete Fontes,
pela ex- Fábrica Confiança, pelo
Recolhimento de Santa Maria Madalena ou das Convertidas,
entre outras.
Temos razões sobejas para pensar que este belíssimo edificado de Ernesto Korrodi
deverá ser urgentemente reparado e protegido na sua cobertura, portas e
janelas, e estabilizado pelo menos até melhores dias, como foi procedido pelo
atual Executivo Camarário em relação ao edificado do Recolhimento das Convertidas.
O
preço do imóvel pedido
(cerca de dois milhões de euros), guindado pela especulação imobiliária em
prejuízo de seu valor arquitetónico, histórico e classificativo, deverá ser equacionado justamente e, se
necessário, vencido em prestações, como ocorreu com a aquisição do Theatro
Circo. Em caso de dificuldade no acordo
com o proprietário, porque se encontra em situação de degradação acelerada
e de eventual colapso, deveria ser
expropriado sem demora.
Deste modo, vimos solicitar ao Senhor Presidente e à Ex.ma Câmara Municipal de
Braga a aquisição do centenário Palácio João Ferreira do Rego, mais
conhecido por Palácio de D. Chica ou
Castelo de Palmeira, classificado como monumento de interesse
público – M.I.P., solicitando a
todos os Senhores Deputados da Assembleia Municipal, da Assembleia da Freguesia
de Palmeira e do Executivo desta todo o apoio para a consecução desta aquisição.
Com os mais respeitosos cumprimentos
Palmeira – Braga, 20 de agosto de 2015
Pel’A Direção da Associação Ambiental
e Cultural KATAVUS
/Manuel
Duarte Silva/
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